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Musicoterapia: Caminhos para a Integração Psíquica

Por: Silvia Rocha

 

"Onde as palavras falham, a música fala." [1]— Hans Christian Andersen

 

No campo da saúde mental, a musicoterapia desponta como uma ferramenta transformadora para a integração psíquica, ultrapassando os limites da linguagem e alcançando camadas profundas da consciência. Este artigo propõe uma reflexão sobre a musicoterapia como um território fértil para o encontro entre emoções, pensamentos e manifestações corporais — revelando conteúdos inconscientes e favorecendo o equilíbrio psicológico.


Em meio à fragmentação do mundo contemporâneo, essa prática terapêutica promove reconexão e reorganização interna, permitindo ao indivíduo uma percepção mais integrada de si mesmo. Sua potência reside na habilidade de facilitar a expressão de afetos silenciados, funcionando como um agente de cura e crescimento pessoal. 


Desde os tempos antigos, a música tem sido reconhecida como instrumento de cura e equilíbrio. Civilizações como a egípcia, a grega e a romana já utilizavam sons e ritmos em rituais religiosos, cerimônias de passagem e práticas médicas rudimentares.
Desde os tempos antigos, a música tem sido reconhecida como instrumento de cura e equilíbrio. Civilizações como a egípcia, a grega e a romana já utilizavam sons e ritmos em rituais religiosos, cerimônias de passagem e práticas médicas rudimentares.

A Melodia da História: Contexto Histórico e Social da Musicoterapia

Desde os tempos antigos, a música tem sido reconhecida como instrumento de cura e equilíbrio. Civilizações como a egípcia, a grega e a romana já utilizavam sons e ritmos em rituais religiosos, cerimônias de passagem e práticas médicas rudimentares. Os gregos, por exemplo, associavam modos musicais a estados emocionais específicos, e Platão defendia que a música deveria ser parte da educação para formar cidadãos íntegros. Essa sabedoria ancestral preparou o terreno para o surgimento da musicoterapia como prática estruturada.

A transição para uma abordagem científica começou nos séculos XVIII e XIX, quando médicos e filósofos passaram a investigar os efeitos fisiológicos e psicológicos da música.


No entanto, foi no século XX que a musicoterapia se consolidou como disciplina formal, especialmente após as guerras mundiais. A necessidade de reabilitar soldados traumatizados levou hospitais a incorporar sessões musicais como parte dos cuidados. Essa experiência prática impulsionou pesquisas e a criação de programas de formação profissional em diversos países.


Hoje, a musicoterapia é reconhecida e regulamentada em nações como Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Brasil. No contexto brasileiro, profissionais formados atuam em hospitais, clínicas, escolas e centros comunitários. Em ambientes hospitalares, por exemplo, a musicoterapia é usada para aliviar dor, reduzir ansiedade e promover bem-estar durante tratamentos intensivos. Em escolas, auxilia no desenvolvimento emocional e na inclusão de crianças com necessidades especiais. Já em clínicas psicológicas, é comum o uso de improvisação musical para acessar conteúdos inconscientes e facilitar a expressão de sentimentos reprimidos.


A força da musicoterapia está em sua natureza interdisciplinar. Ela dialoga com a psicologia ao trabalhar emoções e vínculos, com a medicina ao influenciar parâmetros fisiológicos, com a educação ao estimular cognição e criatividade, e com as artes ao valorizar a expressão estética e simbólica. Essa integração permite que a música seja utilizada como ferramenta terapêutica adaptável a diferentes contextos, sempre respeitando a singularidade de cada indivíduo. Em essência, a história da musicoterapia é uma sinfonia de saberes que se entrelaçam para promover saúde, conexão e transformação.


A Harmonia da Teoria: Fundamentação Psicológica da Musicoterapia

A musicoterapia, em sua essência, fundamenta-se na compreensão de que a música é uma linguagem universal, capaz de mobilizar aspectos profundos da psique humana. Diversas correntes psicológicas e teóricos contribuíram para o embasamento dessa prática, destacando-se a Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung e a Psicanálise.

 

Carl Gustav Jung reconheceu o potencial da música para acessar o material arquetípico do inconsciente coletivo e promover a individuação, atuando como um veículo para a função transcendente [5]. A Psicanálise vê a música como um meio de sublimação e expressão de conteúdos inconscientes, facilitando a elaboração emocional [6]. Edith Lecourt aprofunda-se nas funções psíquicas da música, destacando a dimensão não-verbal do som para acessar memórias e afetos primários [7].

 

Entre os modelos e abordagens, Kenneth Bruscia é conhecido por seus modelos de improvisação em musicoterapia, onde a criação musical espontânea reflete a psique do indivíduo [8]. Rolando Benenzon desenvolveu o Modelo Benenzon (Terapia Não-Verbal), que trabalha com a identidade sonora única de cada pessoa, facilitando o vínculo terapêutico e a expressão de conteúdos profundos [9]. Michel Imberty contribui com estudos sobre a semântica psicológica da música, investigando como a música adquire significado e evoca emoções, e sua relação com a narrativa pessoal [10].

 

Em conjunto, esses teóricos e abordagens reforçam a musicoterapia como uma prática profundamente enraizada na compreensão da psique humana, oferecendo um caminho único para a integração e o bem-estar. A música, em suas múltiplas formas, torna-se um poderoso agente de transformação, capaz de harmonizar as diversas vozes que compõem a sinfonia da alma.


Na área da neurologia, a musicoterapia está associada ao aumento da dopamina, melhora do humor, da atenção e do aprendizado
A musicoterapia é respaldada por evidências científicas que demonstram sua eficácia em diversos contextos clínicos. Estudos indicam que a intervenção musical pode reduzir sintomas de ansiedade e depressão.

Evidências Científicas, Interfaces Interdisciplinares e Aplicações Práticas da Musicoterapia

A musicoterapia é respaldada por evidências científicas que demonstram sua eficácia em diversos contextos clínicos. Estudos indicam que a intervenção musical pode reduzir sintomas de ansiedade e depressão [11], além de mitigar efeitos adversos de tratamentos hospitalares, como dor, medo e isolamento, com impacto mensurável em parâmetros fisiológicos [12], [13]. Em determinadas situações, sua eficácia no controle da dor é comparável à de opioides, sem os efeitos colaterais associados [14].

Na área da neurologia, a musicoterapia está associada ao aumento da dopamina, melhora do humor, da atenção e do aprendizado [15]. Em populações pediátricas com transtorno do espectro autista, a abordagem improvisacional tem demonstrado ganhos significativos em comunicação, criatividade e desenvolvimento global [16], [17], [18]. Esses achados consolidam a musicoterapia como uma prática complementar baseada em evidências, com benefícios para a saúde mental, física e integração psíquica [19].

Do ponto de vista interdisciplinar, a musicoterapia estabelece conexões com diferentes campos do conhecimento:

  • Arte: Atua como ferramenta expressiva e simbólica, alinhando-se a abordagens que utilizam a arte como meio terapêutico [21].

  • Espiritualidade: É empregada em práticas meditativas e rituais de cura, contribuindo para o enfrentamento de questões existenciais e fortalecimento da resiliência.

  • Educação: Estimula o desenvolvimento cognitivo, emocional e social, com impacto em áreas cerebrais relacionadas à linguagem, memória e interação.

  • Neurociência: Evidencia a ativação de circuitos cerebrais ligados ao prazer, emoção e regulação neuroquímica.

  • Cultura: Reforça o senso de identidade e pertencimento, promovendo integração psicossocial.

A aplicação prática da musicoterapia ocorre em ambientes hospitalares, instituições educacionais, centros de reabilitação e projetos sociais, sendo utilizada por profissionais capacitados para promover intervenções individualizadas ou em grupo. Sua abordagem integrativa permite atuar sobre múltiplas dimensões do ser humano — biológica, psicológica, social e espiritual — em processos terapêuticos orientados por protocolos clínicos e referenciais teóricos consolidados.

 

Cinco Formas de Usar a Música na Integração Psíquica

  1. Escuta ativa e sensível   Utilizar músicas cuidadosamente selecionadas para evocar emoções, memórias e estados internos, promovendo elaboração afetiva e autoconhecimento.

  2. Improvisação musical espontânea   Criar sons e ritmos com instrumentos ou com a voz, permitindo que conteúdos inconscientes se manifestem e sejam trabalhados no espaço terapêutico.

  3. Composição e escrita de canções   Transformar vivências pessoais em letras e melodias, favorecendo a ressignificação de experiências e o fortalecimento da identidade.

  4. Movimento corporal com música   Integrar som e movimento em práticas como dança livre ou dança terapia, estimulando a expressão emocional e a consciência corporal.

  5. Diálogo sonoro em grupo   Participar de vivências musicais coletivas, como círculos de percussão ou sessões de escuta compartilhada, fortalecendo vínculos, empatia e pertencimento.


Estudo de Caso: Musicoterapia e Reintegração Psíquica no Filme "O Solista"

O filme “O Solista” (The Soloist, 2009), de Joe Wright, é um estudo de caso marcante sobre a musicoterapia. Ele narra a história real de Nathaniel Ayers, um músico com esquizofrenia que vive em situação de rua. Sua paixão pela música, especialmente pelo violoncelo, torna-se o principal meio para sua reintegração psíquica e social.

 

Para Ayers, a música é mais que um passatempo; é sua linguagem, refúgio e conexão com a realidade. Em sua mente fragmentada, as melodias e harmonias que ele cria ou ouve organizam seu mundo interno caótico. O jornalista Steve Lopez percebe que a música é a chave para acessar Ayers, estabelecendo um vínculo terapêutico informal através da escuta e do compartilhamento musical.

 

"A música atua como uma ponte entre o mundo interno fragmentado e a realidade externa, favorecendo expressão emocional e vínculo." - frase citada no  filme “O Solista” (The Soloist, 2009) [20].

 

Através da música, Ayers expressa emoções e memórias complexas que a linguagem verbal não alcançaria. A improvisação musical permite-lhe externalizar conflitos internos e encontrar um senso de identidade. O filme demonstra o poder transformador da música na cura e integração, mesmo em um contexto não formal de musicoterapia. 


O filme “O Solista” (The Soloist, 2009), de Joe Wright, é um estudo de caso marcante sobre a musicoterapia. Ele narra a história real de Nathaniel Ayers, um músico com esquizofrenia que vive em situação de rua.
O filme “O Solista” (The Soloist, 2009), de Joe Wright, é um estudo de caso marcante sobre a musicoterapia. Ele narra a história real de Nathaniel Ayers, um músico com esquizofrenia que vive em situação de rua.

O Último Acorde: Um Encerramento Harmônico

Ao longo desta jornada terapêutica, a música revelou-se como mais do que som — como linguagem da alma, ponte entre mundos internos e externos. Cada nota, cada silêncio, cada vibração carrega em si a possibilidade de cura, expressão e reconexão. A integração psíquica, nesse contexto, não é um destino, mas um processo contínuo de escuta e ressonância entre partes que desejam se reconhecer.

A música, quando acolhida como ferramenta terapêutica, transforma-se em território fértil para o autoconhecimento. Ela toca memórias adormecidas, evoca afetos profundos e desperta movimentos sutis no corpo e na mente. Como canta Caetano Veloso, “a música é de tudo, é de todos, é de cada um” — e talvez seja justamente essa universalidade que a torna tão potente na travessia emocional e na construção de sentido.

Nesse contexto, o filme O Solista (2009) traz uma narrativa comovente sobre como a música pode servir de abrigo diante dos desafios da esquizofrenia. A trajetória de Nathaniel Ayers revela seu papel como ponte entre sofrimento psíquico e reconexão social. E ainda, se esse tema lhe tocou, recomendo a leitura do artigo Filme "O Solista": A Música como Refúgio da Esquizofrenia, que aprofunda com sensibilidade as relações entre arte, inconsciente e cuidado terapêutico.

Que este artigo inspire novas escutas e novas práticas. Que a música seja vista como companheira fiel nos processos terapêuticos, capaz de acolher o indizível, organizar o caos e revelar caminhos internos. Seja por meio da improvisação, da escuta ativa, da dança ou da composição, a música pode ser o fio que costura fragmentos e harmoniza o ser.


Com carinho, Silvia Rocha 


Silvia Rocha é Psicóloga (CRP 06/182727), Terapeuta Integrativa e Hipnoterapeuta Master.
Silvia Rocha é Psicóloga (CRP 06/182727), Terapeuta Integrativa e Hipnoterapeuta Master.

Silvia Rocha é Psicóloga (CRP 06/182727), Terapeuta Integrativa e Hipnoterapeuta Master.


Formada em Psicologia em 2005, Silvia reúne uma ampla gama de especializações que refletem sua busca incansável por conhecimento e transformação: Hipnose Clínica, Psicoterapia Breve e Focal, Psicotrauma, Psicologia do Idoso, Psicologia do Luto, Doenças Psicossomáticas, Psicanálise, Psicologia Transpessoal, Escrita Terapêutica, Terapias Quânticas e Holísticas, Constelação Sistêmica Familiar, Apometria Clínica, Coaching.

 



Sua experiência de mais de 30 anos na área corporativa, somada ao MBA em Gestão Empresarial pela FGV/RJ e à Pós-Graduação em Negócios pela FAAP/SP, fortalece sua atuação como Coach Pessoal, integrando saberes da psicologia e da gestão para apoiar pessoas em seus processos de mudança, propósito e realização. Além disso, é escritora no Blog do Espaço Vida Integral, onde compartilha artigos, reflexões e conteúdos educativos voltados ao autoconhecimento, à espiritualidade e às práticas terapêuticas.

 

Contato

Instagram e Facebook: silviarocha.terapeuta

WhatsApp: (12) 98182-2495

 

Referências Bibliográficas e Cinematográficas

[1] Andersen, H. C. (s.d.). Citação de Abertura. Disponível em: https://www.brainyquote.com/quotes/hans_christian_andersen_101374

[2] Ulkowski, I. D. P., Cunha, C. M., & Pinheiro, M. M. (2019). FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS. Revista InCantare, (3), 105-120. Disponível em: https://periodicos.unespar.edu.br/incantare/article/view/3151

[3] Doro, M. P. (2015). Psicologia e musicoterapia: uma parceria no processo psicoativo dos pacientes do Serviço de Transplante de Medula Óssea. Revista da SBPH, 18(1), 10-29. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582015000100006

[4] (En)Cena Saúde Mental. (2020). Musicoterapia e Psicanálise: conceito e aproximações. Disponível em: https://encenasaudemental.com/comportamento/insight/musicoterapia-e-psicanalise-conceito-e-aproximacoes/

[5] Purrington, M. (2020). 1. Carl Jung and Music Therapy. Carl Jung Depth Psychology. Disponível em: https://carljungdepthpsychologysite.blog/2020/04/27/carl-jung-and-music/

[6] (En)Cena Saúde Mental. (2020). Musicoterapia e Psicanálise: conceito e aproximações. Disponível em: https://encenasaudemental.com/comportamento/insight/musicoterapia-e-psicanalise-conceito-e-aproximacoes/

[7] Lecourt, E. (2004). The Psychic Functions of Music. Nordic Journal of Music Therapy, 13(1), 10-21. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/08098130409478112

[8] Bruscia, K. E. (1987). Improvisational Models of Music Therapy. Charles C Thomas Publisher. Disponível em: http://mys1cloud.com/cct/ebooks/9780398060404.pdf 

[9] Benenzon, R. O. (2007). The Benenzon Model. Nordic Journal of Music Therapy, 16(1), 63-70. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/08098130709478185

[10] Imberty, M. (2005). La Musique creuse le temps. De Wagner à Boulez: Musique, psychologie, psychanalyse. L'Harmattan.

[11] Ibiapina, A. R. S. (2022). Efeitos da musicoterapia sobre os sintomas de ansiedade e depressão: uma revisão integrativa.Acta Paulista de Enfermagem, 35. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ape/a/xRT56hdPydcZCM4BJXVN8HK/

[12] Pinheiro, G. D., & Silva, L. D. C. (2025). Eficácia da musicoterapia como ferramenta de cuidado em Enfermagem. Revista JRG de Estudos Acadêmicos, 8(18), 1-12. Disponível em: https://revistajrg.com/index.php/jrg/article/view/1866 [13] UFPR. (2022). Pesquisa da UFPR aponta que musicoterapia contribui para redução de efeitos colaterais em tratamentos hospitalares. Disponível em: https://ufpr.br/pesquisa-da-ufpr-aponta-que-musicoterapia-contribui-para-reducao-de-efeitos-colaterais-em-tratamentos-hospitalares/

[14] Medscape. (2025). Musicoterapia é tão eficaz quanto opioides no alívio da dor. Disponível em: https://portugues.medscape.com/verartigo/6513108

[15] De Castro, D. (2025). Benefícios da Musicoterapia para as Doenças Neurológicas. Disponível em: https://drdiegodecastro.com/beneficios-da-musicoterapia/

[16] UFMG. (2017). Pesquisa da UFMG relata benefícios da musicoterapia na evolução integral de crianças autistas. Disponível em: https://ufmg.br/comunicacao/noticias/pesquisa-da-ufmg-relata-beneficios-da-musicoterapia-na-evolucao-integral-de-criancas-autistas

[18] Freire, M. H. (2021). Eficácia da Musicoterapia Improvisacional Musicocentrada no tratamento de crianças pré-escolares no Espectro do Autismo: um estudo controlado. Revista Brasileira de Musicoterapia, 23(1). Disponível em: https://musicoterapia.revistademusicoterapia.mus.br/index.php/rbmt/article/view/159

[19] Generalitranquilidade.pt. (s.d.). Benefícios da musicoterapia para a saúde. Disponível em: https://www.generalitranquilidade.pt/blog/saude/musicoterapia-beneficios-saude

[20] Wright, J. (Diretor). (2009). O Solista[Filme]. Universal Pictures.

[21] Rocha, S. (s.d.).A Arte como Caminho para o Inconsciente. Blog Psicóloga Silvia Rocha. Disponível em: www.espacovidaintegral.com.br/blog(Exemplo de URL, a ser substituído pela URL real do artigo no blog).

[22] Wright, J. (Diretor). (2009).O Solista[Filme]. Universal Pictures.

[23] Benenzon, R. O. (1989).Musicoterapia: Teoria e Prática. Summus Editorial.

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