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A Importância do Vínculo Afetivo: Relações como Ferramenta de Transformação Social

Por: Silvia Rocha


Em um mundo cada vez mais conectado digitalmente, mas paradoxalmente isolado em suas relações mais profundas, a importância do vínculo afetivo emerge como um pilar fundamental para a saúde psíquica e a transformação social. Este artigo busca explorar como a construção de relações afetivas saudáveis pode ser uma poderosa ferramenta para promover a inclusão, a reconstrução identitária e o bem-estar em populações vulneráveis, com foco especial na juventude em situação de risco. Inspirado pela reflexão proposta em "Sementes Podres: Um Espelho das Realidades Sociais", propomos uma jornada de compreensão sobre o papel vital do afeto, da escuta e da presença como catalisadores de mudança.


Em um mundo cada vez mais conectado digitalmente, mas paradoxalmente isolado em suas relações mais profundas, a importância do vínculo afetivo emerge como um pilar fundamental para a saúde psíquica e a transformação social.
Em um mundo cada vez mais conectado digitalmente, mas paradoxalmente isolado em suas relações mais profundas, a importância do vínculo afetivo emerge como um pilar fundamental para a saúde psíquica e a transformação social.

Desenvolvimento: A Ciência do Afeto e da Conexão

A Psicologia, em suas diversas vertentes, oferece um robusto embasamento para compreender a centralidade dos vínculos afetivos. A Psicologia Social nos ensina que a transformação social é intrinsecamente ligada à dinâmica das relações humanas, onde os afetos desempenham um papel crucial na construção da identidade e na percepção do mundo [1]. Enrique Pichon-Rivière, um dos precursores da teoria do vínculo, conceituou-o como uma estrutura dinâmica que molda a forma como nos relacionamos com os outros, sendo o grupo um poderoso instrumento de transformação da realidade [2].

 

A Psicologia Comunitária, por sua vez, emerge em contextos de grandes mudanças sociais, focando na criação de ambientes seguros e acolhedores, especialmente para jovens em situação de vulnerabilidade. A prática baseada no afeto e no trabalho em rede são pilares dessa abordagem, promovendo a resiliência e o desenvolvimento em comunidades [3].

 

Complementarmente, a Psicologia Humanista, com Carl Rogers como um de seus expoentes, enfatiza a natureza inerentemente relacional do ser humano. Rogers defendia que a necessidade de conexão e compreensão autêntica é fundamental para a autorrealização e o bem-estar. A escuta empática, um conceito central em sua abordagem, torna-se uma ferramenta terapêutica e social poderosa para estabelecer esses vínculos [4]. Paulo Freire, no campo da educação, ecoa essa perspectiva ao propor um modelo educacional baseado no diálogo e na participação ativa, onde a "amorosidade" é um resgate do educar, transformando a educação em um instrumento de transformação social [5].

 

A Interdependência entre Mente, Corpo e Ambiente

A abordagem multidisciplinar revela que os vínculos afetivos não impactam apenas o bem-estar emocional, mas também a saúde física e a capacidade de lidar com psicotraumas e transtornos emocionais. A interdependência entre mente, corpo, emoções e ambiente é inegável. Em contextos de vulnerabilidade social, a ausência de vínculos seguros pode exacerbar problemas de saúde mental, como estresse crônico, ansiedade e depressão [6].


Dados estatísticos revelam que condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças em adolescentes, e a maioria desses casos não é detectada ou tratada [7]. A morosidade no acesso a diagnósticos e tratamentos adequados agrava essa situação, perpetuando ciclos de sofrimento [8].

Enrique Pichon-Rivière, um dos precursores da teoria do vínculo, conceituou-o como uma estrutura dinâmica que molda a forma como nos relacionamos com os outros, sendo o grupo um poderoso instrumento de transformação da realidade
Enrique Pichon-Rivière, um dos precursores da teoria do vínculo, conceituou-o como uma estrutura dinâmica que molda a forma como nos relacionamos com os outros, sendo o grupo um poderoso instrumento de transformação da realidade

Na Prática: Sinais de Vínculos Afetivos em Ação

Traduzir conceitos teóricos em observações práticas é essencial para compreender como os vínculos afetivos se manifestam e impactam o cotidiano, especialmente em contextos de vulnerabilidade. A capacidade de identificar esses sinais permite uma intervenção mais eficaz e um suporte mais assertivo. Vejamos alguns sinais de que os vínculos afetivos estão impactando positivamente a vida de um jovem em situação de risco:

 

1       Melhora na Comunicação e Expressão: O jovem começa a expressar seus sentimentos, medos e esperanças de forma mais aberta e confiante, buscando o diálogo em vez do isolamento.

2       Aumento da Autoestima e Autoconfiança: Há uma percepção de valor próprio e capacidade, refletida em atitudes mais proativas e na disposição para enfrentar desafios.

3       Engajamento em Atividades Sociais e Comunitárias: O jovem demonstra interesse em participar de grupos, projetos ou atividades que promovam a interação e o senso de pertencimento.

4       Busca por Apoio em Momentos de Dificuldade: Em vez de se fechar, o jovem procura ativamente o suporte de figuras de confiança (educadores, terapeutas, mentores) para lidar com problemas.

5       Desenvolvimento de Habilidades de Resolução de Conflitos: A capacidade de negociar, ceder e buscar soluções construtivas em suas relações interpessoais melhora significativamente.

 

Esses sinais, muitas vezes sutis, são indicadores poderosos de que o afeto e a conexão estão atuando como ferramentas de reconstrução identitária e de promoção da saúde psíquica. Eles demonstram a capacidade de resiliência e a força transformadora que reside na teia de relações humanas saudáveis.


Uma imagem que transmite esperança e superação, talvez um nascer do sol sobre uma paisagem serena ou uma pessoa olhando para o horizonte com otimismo.
A escuta, o afeto e a presença são mais do que meras ferramentas; são pilares que sustentam a reconstrução da identidade e a promoção da saúde psíquica.

O Abraço que Transforma

Ao longo deste artigo, procurei demonstrar como o vínculo afetivo transcende a esfera individual, tornando-se um motor potente para a transformação social, especialmente para jovens em situação de vulnerabilidade. A escuta, o afeto e a presença são mais do que meras ferramentas; são pilares que sustentam a reconstrução da identidade e a promoção da saúde psíquica. Acredito firmemente que, ao cultivarmos relações baseadas na empatia e no respeito, abrimos caminhos para a inclusão e para um futuro mais justo e acolhedor.

 

Para aprofundar essa reflexão sobre vínculos afetivos e superação em contextos de vulnerabilidade, recomendo assistir ao filme francês Sementes Podres (2018), dirigido por Kheiron. Com sensibilidade e leveza, o longa retrata a jornada de jovens marginalizados que, através da presença genuína de um mentor, encontram espaço para reconstruir suas histórias e acessar novas possibilidades de vida.


Em também, convido você a ler o artigo “Sementes Podres: Um Espelho das Realidades Sociais”, que aprofunda essa temática sob a ótica da Psicologia Social. A análise revela como o afeto, a escuta e o vínculo podem ser agentes transformadores, mesmo em cenários marcados por dor e exclusão. Uma leitura que amplia o olhar sobre o poder das relações humanas e a força da presença.


Um abraço, Silvia Rocha 


Silvia Rocha é psicóloga (CRP 06/182727), terapeuta integrativa e hipnoterapeuta master
Silvia Rocha é psicóloga (CRP 06/182727), terapeuta integrativa e hipnoterapeuta master


Silvia Rocha é psicóloga (CRP 06/182727), terapeuta integrativa e hipnoterapeuta master, graduada em Psicologia em 2005. Fundadora do Espaço Vida Integral, atua com foco no bem-estar emocional, crescimento pessoal e fortalecimento de vínculos, oferecendo terapias individuais, de casal, sistêmicas e familiares.




 



Possui formações em Psicoterapia Breve e Focal, Psicotrauma, Psicologia de Emergências e Desastres, Doenças Psicossomáticas, Psicanálise, Coaching, Psicologia Transpessoal, Terapias Quânticas/Holísticas, Constelação Sistêmica Familiar e Apometria Clínica Avançada. Com mais de 30 anos de experiência na área corporativa, MBA pela FGV/RJ e Pós-Graduação pela FAAP/SP.

 

Contato:

Instagram e Facebook: @silviarocha.terapeuta

 

Referências Bibliográficas

[1] SAWAIA, B. B. Transformação social: um objeto pertinente à psicologia social. Psicologia & Sociedade, v. 26, n. spe, p. 10-18, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/psoc/a/Wx4KxGgWWrK57tqYxQS4ZhX/. Acesso em: 20 set. 2025. 

[2] BASTOS, A. B. B. A técnica de grupos-operativos à luz de Pichon-Rivière e Freud. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26, n. 1, p. 139-148, 2010. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-88092010000100010. Acesso em: 20 set. 2025. 

[3] SANTOS, L. C. dos. A psicologia social comunitária e a potência do afeto: um relato de experiência. Pretextos - Revista da Pós-Graduação em Psicologia da PUC Minas, v. 1, n. 1, p. 1-15, 2017. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/pretextos/article/download/22467/17069/88275. Acesso em: 20 set. 2025. 

[4] ESPAÇO VIVER PSICOLOGIA. Carl Rogers: O Humanista que Transformou a Psicologia. 27 jun. 2023. Disponível em: https://espacoviverpsicologia.com/carl-rogers-o-humanista-que-transformou-a-psicologia/. Acesso em: 20 set. 2025. 

[5] UBRES. Paulo Freire: o educador que transformou o Brasil e o mundo. 19 set. 2024. Disponível em: https://www.ubes.org.br/2024/paulo-freire-o-educador-que-transformou-o-brasil-e-o-mundo/. Acesso em: 20 set. 2025. 

[6] LIDER SOCIAL. Como a desigualdade social afeta os jovens. Disponível em: https://lidersocial.com.br/como-a-desigualdade-social-impacta-a-vida-dos-jovens/. Acesso em: 20 set. 2025. 

[7] OPAS/OMS. Saúde mental dos adolescentes. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/saude-mental-dos-adolescentes. Acesso em: 20 set. 2025. 

[8] FIOCRUZ. Saúde mental: especialistas falam sobre os desafios no cuidado de jovens e adolescentes. 7 abr. 2022. Disponível em: https://fiocruz.br/noticia/2022/04/saude-mental-especialistas-falam-sobre-os-desafios-no-cuidado-de-jovens-e. Acesso em: 20 set. 2025.



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